Como
um acontecimento se transforma em trauma?
A maior parte das reações do
organismo perante uma alteração do meio ambiente, mesmo aquelas que causam dor,
mal-estar ou sofrimento, têm um princípio adaptativo de proteção e
sobrevivência. Por exemplo, a tosse, o vômito e a dor são defesas do organismo:
ajudam a expelir um material que se encontra numa via errada, ou um alimento
nocivo, ou um corpo estranho como farpa, que poderiam prejudicar o organismo. A
ansiedade é um estado emocional comum e provavelmente tenha sido selecionada
como um importante fator para a preservação da espécie humana. O estado ansioso
é definido como um comportamento de alterações físicas (taquicardia, sudorese,
hiperventilação, aumento da pressão arterial) e psíquicas (apreensão,
inquietude, alerta). Assim como já dor evoluiu para nos proteger de danos
imediatos ou futuros, a ansiedade talvez tenha evoluído para nos proteger
contra futuros perigos ou outros tipos de ameaças.
De fato a ansiedade pode
variar em intensidade e expressão conforme a importância que se atribui ao
risco iminente. Quanto mais ameaçador um evento, maior seria a intensidade de
expressão da ansiedade. Como um sinalizador antecipatório de possíveis ameaças
ou mesmo diante da ameaça, a ansiedade altera de forma vantajosa o pensamento,
a fisiologia e o comportamento humano com ajustes para sobrevivência.
Nossos ancestrais
provavelmente tenham antecipado riscos reais durante a caça e a vida diária,
exercendo algum controle sobre a incidência de ameaças letais por intermediário
da ansiedade. É possível que o superdimensionamento das ameaças tenha sido
selecionado como recurso de preservação por estabelecer margens de segurança em
relação a avaliação dos perigos reais. Apesar de a ansiedade estar com
intensidade e duração exacerbadas, impedindo a continuidade equilibrada da
vida. É o caso de boa parte das pessoas que sofreram traumas: um acontecimento
se transforma em trauma quando o “sistema é sobrecarregado cronicamente.”
Como
o trauma se apresenta?
As lembranças do trauma
geralmente estão fragmentas em imagens, sons, odores, sensações físicas
(náuseas, tonturas e outras) ou emoções (aversão, nojo, medo, pavor, raiva,
tristeza) não integradas a outras memorias autobiográficas. Estímulos
relacionados ao evento traumático, específicos e/ ou genéricos, podem reavivar
as memórias que retornam muito mais fortes que uma simples recordação, com
nitidez visual e forte expressão emocional, provocando a revivescência do
evento traumático.
Eventos traumáticos podem
afetar o funcionamento cognitivo, a saúde física e as relações interpessoais. A
seguir, as reações mais frequentes (isoladas ou conjuntas) após o trauma.
·
Efeitos cognitivos
-
Confusão Mental
-
Desorientação temporal (cronológica).
-
Dificuldade de concentração e de tomada de decisão
-
Dificuldade de expressar pensamentos
-
Estreitamento perceptual
-
Incredulidade e descrença
-
Pensamentos intrusivos (indesejados)
-
Perturbações de memória.
-
Pesadelos
-
Preocupações exacerbadas
·
Efeitos emocionais
-
Amortecimento e anestesiamento
-
Ansiedade
-
Apreensão
-
Culpa
- Desamparo
-
Desesperança
-
Desespero
-
Irritabilidade
-
Negação
-
Pânico
-
Raiva
-
Tristeza
·
Efeitos físicos
-
Abuso de álcool ou drogas
-
Alterações cardiovasculares (aumento ou diminuição da frequência cardíaca)
-
Arrepios
-
Excitação, estado de alerta e hiperatividade
-
Fadiga
-
Fraqueza
-
Insônia
-
Perda da energia sexual
-
Perda do apetite (ou alimentação compulsiva)
-
Problemas de saúde (somatizações como, por exemplo dor de cabeça, desconfortos
gástricos, diarreia, dor de estomago, náusea, etc).
- Tonturas
-
Transpiração intensa
-
Tremores
·
Efeitos interpessoais
-
Conflitos de relacionamento sociais
-
Isolamento
-
Perturbações familiares
-
Prejuízo do desempenho profissional
-
Recusa de seguir regras ou ordens
Tipos de trauma e quando recorrer a um tratamento
Geralmente
o trauma envolve o efeito – surpresa e o desamparo diante de uma ameaça física
ou subjetiva a própria vida, ou a vida de pessoas amadas. Entre os traumas mais
frequentes das pessoas que buscam psicoterapia podem- se citar:
·
Perdas de entes queridos (especialmente
familiares)
·
Abortos
·
Acidentes
·
Separação conjugal (infidelidade, conflitos,
etc)
·
Assalto
·
Sequestro (com cativeiro, relâmpago,
domiciliar)
·
Violência sexual
·
Decepções (quebra de confiança, enganos, etc)
·
Mudanças drásticas de vida (cirurgias,
enfermidades, perda de emprego etc.)
·
Testemunho ou sofrimento pessoal de violência
·
Conflitos familiares (discussões graves,
brigas etc)
Deve
– se recorrer á psicoterapia quando o sofrimento for expressivo a ponto de
limitar a vida diária, ou quando perdurarem sintomas como memorias recorrentes
do trauma, distanciamento afetivo, pensamentos indesejáveis, insônia e
irritação.
Cada
vez que contamos e recontamos uma história estamos inserindo novos elementos
cognitivos e a modificando. A psicoterapia direciona essa “conversa orientada”
no sentido da superação. As pessoas que não têm acesso a psicoterapia devem
falar com familiares, amigos, religiosos (respeitando seus sistemas de crenças)
confiáveis, que possam simplesmente ouvir num primeiro momento. Em seguida, é
importante que a conversa tenha uma orientação ao aprendizado e á superação da
dificuldade.
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