(*) Katia Cris tina
Horpaczky
A carência afetiva tem se
transformado numa verdadeira epidemia. Vivemos num mundo onde tudo o que
fazemos nos induz a “ter” cada vez mais. Um celular novo, um sapato de outra
cor, uma roupa de marca famosa, uma viagem em suaves prestações...
Tenho a impressão de estarmos
todos tentando satisfazer um mesmo desejo, porém de maneira tão individualista
e ansiosa que muitas vezes não percebemos a noção do que realmente importa.
Algumas pessoas não conseguem descrever, mas
na maioria das vezes, a sensação de “vazio” ou de que “algo precisa ser
preenchido” é uma fala muito comum principalmente em mulheres carentes. Elas
tentam buscar o preenchimento desta falta no relacionamento e muitas vezes
acabam cobrando coisas que muitas vezes não é possível receber. Muitos
problemas de relacionamento começam exatamente nesse ponto.
Outras mulheres ao se sentirem carentes, doam
intensamente seu amor ao companheiro, oferecendo toda espécie de carinho,
afeto, agrado, abrindo mão de sua própria vida em função do outro. O
companheiro vem em primeiro lugar, muitas vezes acabam abrindo mão de seus
amigos, trabalho, família, filhos, simplesmente para satisfazê-lo.
A grande maioria não consegue se satisfazer
com o que recebem. Com o que são, com o seu trabalho, com a sua vida.
Sugam a energia dos que estão a sua volta
exigindo atenção constate, querendo agradar, querendo ser uma boa dona de casa,
esposa e amante. Muitas vezes tornam-se exigentes, querendo sempre mais, pois
os outros ficam sempre devendo em questões como apoio, atenção e segurança.
A infância de pessoas carentes geralmente foi
privada de amor, carinho ou atitudes mais afetivas. Algumas famílias muito
rígidas também tendem a desenvolver filhos inseguros que geralmente sofrem com
a sensação de “vazio”. Geralmente a carência afetiva atrai relacionamentos
confusos e insatisfatórios. Este perfil quase sempre dá mais do que recebe, faz
tudo pelo outro e quando esquece de si mesmo corre o risco de ser menosprezado,
rejeitado e não valorizado pelo parceiro.
A carência afetiva também leva muitas
mulheres ao consumo, a compulsão, ao shopping, liquidação, compras. É uma busca
constante para se sentir melhor, aumentar de qualquer jeito a auto-estima e
principalmente tentar preencher algo que está faltando, novamente a importância
do “ter “em detrimento de “ser”.
O primeiro passo para administrar o problema
é desenvolver a auto aceitação, melhorando assim a autoestima. Ser carente é
estar em constante busca de algo que nem sempre encontramos no outro ou nas
coisas, mas em nós mesmos, é nos descobrirmos sermos a nossa melhor companhia.
Por isso, pare de buscar este preenchimento fora e busque encontrá-lo dentro de
você. Procure ajuda se achar necessário.
Há anos tenho problemas com a expressão carência afetiva. Ela
sugere que algumas pessoas têm maior necessidade de aconchego do que outras.
Que as mais carentes têm direitos especiais, adquiridos em função de uma
história de vida particularmente infeliz. Não é isso que percebo. Aqueles que
se colocam como carentes tiveram vivências pessoais similares às da maioria das
pessoas. Além do mais, não é necessário ser particularmente carente para
gostar, e muito, de ser tratado com amor, carinho e atenção.
(*) Kátia Horpaczky
Psicóloga Clinica, Psicoterapeuta Sexual de Família e Casal.
CRP – 06/41.454-3
(11) 5573-6979
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